O pianista mais precoce que já passou por Ribeirão chama-se André Mehmari. Ele me escreveu três e-mails. Todos com um só tema: saudades do Mário. Dêem o play para ouvir as duas versões da música que o André fez pra ele e sintam a afinidade que unia Mário Feres e André Mehmari – irmãos de instrumentos e de profissão. Grandes amigos.
"Liguei os microfones e fiz essa pequena homenagem ao meu amigo, Elegia pra Mário Feres. É uma linda tarde aqui na Cantareira, deu saudades. André"
Que saudades... Mal posso aceitar a partida dele. Estava tão confiante que ele sairia dessa. Um pouco de ingenuidade minha: a doença era grave demais... nunca quis acreditar que perderíamos o Mário. Na última vez que nos falamos, por telefone, logo após sua longa cirurgia de 13 horas, eu pedi a ele que tivesse paciência na recuperação, que ele teria um nova chance e superaria o momento difícil. Eu sei que ele sustentou suas forças até o último momento. Se eu pudesse, fazia o amigo acordar e voltar pra gente, mas somos tão pequenos... poeira no ar. Um grãozinho de nada é o que somos. Mas que coisa divertida e boa pode ser esse encontro de grãozinhos, nesse adorável planetinha? Assim foi o nosso: como amei esse amigo! Me identifico demais com ele, com o jeito dele ser músico - na prática, co'a mão na massa, todo faceiro, o talento ali na cara, alegria de viver, sem filtros. Um trem elegantemente desgovernado rumo ao céu, cheio de paixão, amor à vida. Vê quanta vida ele ainda tinha nos seus olhos! Não era a hora Marião! Onde está você? O que foi, o que não foi? Não viu a partitura na estante, com tantos compassos ainda pela frente?! Se tua linda arte teve o papel sagrado de tirar o peso excessivo, o amargor da vida, agora você habita esse espaço etéreo de onde nascem as melodias, as harmonias... você simplesmente tornou a ser novamente música pura... Qualquer hora, vê se me sopra alguma daí, que eu escrevo aqui, tô te escutando meu amigo... Dizem que nós refazemos e reconstruímos nossa memória, de acordo com a conveniência. Mas não consigo lembrar de nenhum encontro nosso, nos 17 anos de nossa amizade, que não tenha sido muito feliz. Mário, foste uma peça rara, uma alma grande, generosa, de musicalidade transbordante e com um humor de lascar... Ainda escuto claramente teu riso, tua voz, teu som, teu Tom rasgando o silêncio, tão vivos... Tudo bem gravado na alma. Foi um privilégio e uma alegria ter te conhecido, meu caro amigo. Te amaremos para sempre e um dia seremos todos uma mesma canção. André Mehmari
Que música linda! Que depoimento incrível de amor e sintonia. Valeu, André. Beijo grande e muito obrigada por essa música, bálsamo para nossa saudade.
ResponderExcluirRosana Zaidan
Que palavras lindas! É muito bom entender que o pequeno pode ser grande, bonito, importante e acima de tudo, melhor!. Não o conheço, mas agradeço. Renato
ResponderExcluirMúsica profunda, sensível... como o Mário e como o André. Que bom poder continuar ouvindo música de qualidade, como o Mário sempre nos proporcionou. Continue nos alimentando, André!
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